Concebemos a “doença” como um programa criado pela natureza, que surge da interação de todos os seres vivos e que têm um claro sentido biológico, que é a superação de obstáculos para a sobrevivência.
Neste conceito devemos separar três partes:
1) É um Programa criado pela Natureza: a doença de nenhuma maneira é algo casual ou um erro. A natureza nunca se equivoca. As manifestações físicas e mentais tem sido criadas no curso da evolução e inscritos no cérebro para serem usadas diante de situações especiais. Muitas delas foram muito úteis em determinados períodos da evolução dos seres vivos e se reativam somente quando existe um conflito biológico.
2) Surge da interação de todos os seres vivos: a vida é uma só. Se manifesta no ser humano, nos demais animais e nas plantas. Quando entendemos isso, começamos a advertir que a posição egocêntrica do ser humano é uma das principais causas das “doenças”. A experimentação com animais, a destruição das florestas, a contaminação do ar, além de ser uma desonra que pesa sobre toda humanidade, manifesta um absoluto desconhecimento das leis que natureza tem imposto e que são transgredidas continuamente pelo grande pregador do planeta: O homem.
3) Tem um claro sentido biológico: que é superação de um obstáculo para sobrevivência: É necessário repetir que a natureza nunca comete erros. Tudo o que ela faz tem sentido, mesmo que ainda não entendamos ou ainda que esse sentido nos pareça contrário a nossa lógica humana. A “enfermidade” surge no ser vivo quando sua sobrevivência se vê ameaçada e se cria uma situação que torna impossível uma solução a essa ameaça.
O conflito biológico
A insatisfação de uma necessidade biológica, cujo significado é transferido para o comportamento humano, é o que chamamos de conflito biológico. As necessidades biológicas fundamentais, que a natureza exige dos seres vivos apreendam a superar no curso da evolução, são cinco: nutrição, reprodução (sexo e prole), território e o medo.
Pegaremos uma delas para entender o conceito de conflito biológico. A necessidade de se nutrir implica em detectar a presa (ver, cheirar, ouvir) e em seguida capturá-la. Uma vez morta, comê-la, digeri-la e a eliminá-la (após aproveitar os seus nutrientes). Quando há um obstáculo em algum desses passos e ele ameaça sobrevivência do animal, se ativa um programa de sobrevivência para superar esse obstáculo.
Como estamos falando do tubo digestivo a zona do cérebro que se ativará é o tronco cerebral. Dali surgem ordens precisas para as células do tubo digestivo. Se não conseguir caçar a presa, serão as células do fígado as que crescerão para aproveitar ao máximo o escasso alimento que existe. Se a presa foi capturada, mas é grande demais, serão as células do esôfago ou do estômago as que crescerão, para poder utilizar uma grande quantidade de enzimas para facilitar a passagem. Se a presa foi digerida mas não pode ser eliminada, serão as células do intestino grosso as que cresceram para poder cumprir com essa função. Como vemos a única resposta possível de todo tubo digestivo frente a insatisfação de nutrir-se, será a proliferação celular que caso se mantenha por um período de tempo será possível detectar uma formação a qual chamamos de tumor.
O que acabamos de descrever é uma resposta biológica a uma necessidade insatisfeita. Pertencia a uma lógica somática que guarda relação com período evolutivo na qual esses órgãos tiveram origem. Nesses períodos a única forma que tinham era a de um grande tubo que foi se diferenciando em funções específicas, fato que segue ocorrendo no período humano de qualquer feto humano.
As células foram diferenciando-se para assumir funções que as demandas da natureza as impuseram. Não existia o Cérebro Moderno e nem a linguagem. O soma (corpo) se expressava através do cérebro antigo (tronco cerebral) que respondia a uma lógica de percepção de estímulo de uma determinada zona cerebral e logo (por repetição ou inibição) criava uma associação (estímulo – zona cerebral – órgão) que gerou os primitivos mapas cerebrais que continuam ainda atuando em nossos cérebros.
Ao surgir o então Cérebro Moderno e a linguagem, se recategorizaram nesses antigos mapas, uma vez que apareceram outros novos, que estabeleceram contato com os antigos mapas cerebrais. Essa relação “primitivo-moderno” ou “sinal-símbolo” é o que permitiu a transição das necessidades biológicas às típicas condutas humanas.
Assim, os antigos conflitos de nutrição, passaram a converterem-se (através da linguagem) em conflitos de indigestão, saciedade. A proliferação do fígado poderá aparecer diante de dificuldades econômicas que a pessoa vive como uma ameaça à sua sobrevivência, ainda quando exista alimento suficiente para comer. A proliferação das células do estômago, se produzirá frente a situações familiares ou laborais que pessoa “não pode digerir”. A proliferação do intestino grosso se iniciará adiante as situações em que a pessoa sinta dificuldade de “eliminar um pedaço” ou ter que “aguentar a barra” com uma “situação de merda”.
Toda uma resposta qualitativamente humana diante de um fato, que deixa de ter o monopólio psicológico e que somente a partir da biologia podemos interpretar, diagnosticar e tratar.
Sobre o autor: O Dr. Fernando Callejón nasceu em Rosário, Argentina, em 1955. Se graduou em medicina na Universidade Nacional de Rosário no ano de 1980. Cursou estudos de psicanálise antropologia filosófica. Em 1995 assistiu aos seminários ditados pelo Dr. Ryke Geerd Hamer. Foi presidente do primeiro curso de Nova Medicina na Argentina no mesmo ano. Leciona cursos e conferências a nível nacional internacional
Tradução e adaptação por Simone Carvalho