“Viver é muito perigoso” – Guimarães Rosa
Já dizia Guimarães Rosa que “viver é muito perigoso”, sendo o aprender a viver o próprio viver em si. Na contundente verdade por trás das palavras do escritor brasileiro, está a evidente certeza de que ao longo da vida decisões difíceis, incertas e erráticas serão tomadas até que se possa atingir resultados efetivamente satisfatórios.
É louco, mas mesmo sem perceber, a gente continua fazendo o que fazemos porque preferimos sentir que temos controle de algo a arriscar coisas novas e diferentes e encarar o medo do desconhecido.
Existe uma força sutil e constante que faz com que a gente se mantenha na nossa zona de conforto: a necessidade de controle.
Vale a pena ceder a essa força? Essa é uma causa muito comum de ansiedade.
Curiosamente, quase nenhum de nós tem domínio consciente sobre as funções mais básicas de nosso corpo. Respiramos, comemos e fazemos nosso coração funcionar sem esforço algum. Aliás, quando precisamos nos esforçar para controlar essas partes de nosso corpo, geralmente é porque temos algum problema.
E, tal como não nos preocupamos em ter controle sobre nosso sistema autônomo, mas mesmo assim ele (quase sempre) funciona, deveríamos aprender a deixar os eventos, as pessoas e os sentimentos fluírem.
O estudo de Ellen Langer intitulado: A ilusão do controle, de 1975, examinou o nível de influência que exercemos sobre os acontecimentos da vida. Ela descobriu que nós superestimamos o nosso grau de controle na maioria das situações. O estudo também demonstrou como a realidade quase sempre destrói a nossa ilusão.
Ao nos libertar da ilusão do controle, ganhamos controle sobre a ilusão e passamos realmente a viver.
Mas… como fazer isso?
Aí vão 5 dicas que podem lhe ajudar a conseguir abrir mão desta necessidade:
1) Assuma que a idéia de controle é uma ilusão. Ao reconhecer que o número de fatores desconhecidos em qualquer situação é muito maior do que o de conhecidos, passamos a ter controle sobre não ter controle. Isso pode parecer dicotômico, mas vai lhe dar uma grande sensação de paz.
2) Saiba que tudo que está fazendo neste momento é o melhor que pode fazer. Existe um limite físico e mental para tudo o que fazemos. Além deste limite existe a fé. Se você tem fé que está fazendo o melhor que pode com o que tem, tudo que fizer se tornará mais fácil.
3) Aceite os fluxos da vida. Tudo nesta vida tem seu momento. Saber reconhecer e aceitar isso como parte da vida lhe permite evitar de tentar “plantar no outono” ou “colher frutos na primavera”. Utilize os momentos de contrafluxo para se recolher e aprender com o momento.
4) Lembre-se que nada nesta vida é estático. Das águas dos oceanos às células de nosso corpo, tudo está em constante mutação. Ter consciência disso lhe permitirá saber que a todo momento existe uma chance para começar de novo.
5) Entenda que a vida é um grande e maravilhoso mistério. Embora não saibamos de onde viemos, para aonde vamos e às vezes quem somos, não devemos deixar de viver cada dia como se fosse o verdadeiro milagre que é.
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Um abraço,
Dra. Simone Carvalho
- Langer, E. J. (1975). The illusion of control. Journal of personality and social psychology, 32(2), 311.